terça-feira, 16 de março de 2010

E no fim...


Certo dia no hospital, pude observar uma mulher em estado terminal
Cercada por uma tradicional família.
Daquelas que não desatam seus nós por nada nesse mundo
Mas não me ative na família, vi apenas o reflexo do que a tradição fizera naquela jovem mulher
Pude ver por um momento breve... Seu último...

E lá estava ela, absorta no esplendor do rio
que corria num curso tão óbvio e previsível que ela quis seguir.
Mas não pôde, pois estava de pés e mãos atadas. 
A mata ao seu redor a torturava com os sussurros e silêncio mais absurdos.

Ela viu os pássaros e outros animais cantando de repente e quis cantar também
eles cantam com tanta convicção que ela quis poder cantar também, 
Mas não pôde, pois as mordaças lhe impediam

Subitamente o espanto por um galho que se parte ao longe
E o chamado acontece. Ela sabe do que se trata. Apenas ela deve ouvir.
E ela se desespera, debatendo-se contra o próprio corpo, longe de si
Ela quer apenas se libertar daquilo tudo que a prende diante da liberdade
Ela quer desfazer todo o sofrimento que sente e poder se sentir leve novamente,
Como quando veio ao mundo.

Até que enfim, em meio a selva que a cercava e ao mundo paralelo em que vivia
Ela via a luz que procurava e ia para o lugar que a algum tempo sentia tanta necessidade de estar
Se viu livre de tudo aquilo que fazia a agonia existir, 
E pôde sentir uma vez na vida, na última, a sensação de sentir.

Saí dali enquanto todos debruçavam-se sobre ela e não me recordo bem da cena,
Mas não houve alegria maior para se comemorar do que a dela
Toda a tristeza, ela deixou como herança aos que ajudaram a fazê-la triste

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